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RESUMO: Este trabalho visa caracterizar formal, semântica e pragmaticamente as construções passivas, médias e impessoais, com o fim de elucidar a natureza da relação entre estas construções, no português arcaico, relação essa observada em trabalhos, como os de Camacho (2002, 2003, 2006), para o português atual. Parte do princípio de que o traço comum a essas construções é a não-atribuição de causalidade, e de que estas construções refletem diferentes conceitualizações de um evento. Com base nesses princípios, analisa, numa abordagem cognitivo-funcional (GIVÓN, 1993, 1995, 2002, 2005, KEMMER, 1993, CAMACHO, 2002, 2003, HOPPER & THOMPSON, 1980, POTTIER, 1992, CROFT, 1994, 1998, LANGACKER, 1987, 1991, DELANCEY, 1987, TALMY, 1988, 2000, LAKOFF, 1977), a codificação da função não-atribuição de causalidade na Crônica Geral da Espanha de 1344, prosa histórica representante do português arcaico, editada por Cintra (1951). Nessa análise, busca respostas para os seguintes problemas: (a) dos recursos verbais disponíveis, no corpus analisado, para a expressão da não-atribuição de causalidade, qual a mais e a menos prototípica? (b) que traços semântico-pragmáticos e formais caracterizam as diferentes estratégias? A hipótese central considera que as construções analisadas codificam a não-atribuição da causalidade em variados graus, conforme fatores ligados à noção de causalidade e à transitividade, como a perspectivação e a saliência. Foram coletadas 1061 ocorrências e analisadas quanto a fatores pragmáticos, como a topicalidade e o estatuto informacional, fatores semânticos, como saliência cognitiva do Afetado e do Causativo, traço [animado], tipo de afetação, e fatores formais, como a ordem e a expressão. Além disso, todas foram graduadas quanto ao grau de transitividade e de relevo discursivo. Os resultados apontaram que a média é a mais prototípica das construções de não-atribuição de causalidade, por ser a que apresenta causativo menos saliente e menor grau de transitividade. A passiva, mais freqüente no corpus e, muitas vezes, com Causativo omitido, caracterizou-se como menos prototípica por seu Causativo ser freqüentemente evocado e apresentar maior grau de transitividade. Do mesmo modo, a impessoal, cujo causativo é freqüentemente inferível, manifestou-se como mais causativa e mais transitiva que a média, todavia menos que a passiva. A análise demonstrou, enfim, que o fenômeno da não-atribuição de causalidade não é um fenômeno isolado, limitado à manifestação ou não de um Agente. Submete-se a graus e acha-se ligado, especialmente, ao contorno têmporo-aspectual do evento. Devido à noção experiencial de causalidade, ligada à idéia de movimento, eventos perfectivos são mais causais que eventos imperfectivos.

Tese completa: 

LIMA, Maria Claudete. A não-atribuição de causalidade na Crônica Geral de Espanha de 1344.

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